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50 anos de Medicina

 

POR JORGE BALDI*

 

Todo homem tem uma história de vida. Com a graça de Deus, nestes longos 50 anos de medicina, a trajetória percorrida foi árdua, persistente, de renúncia, de tristezas e alegrias, de decepções e vitórias.

 

O ano de 1964 teve dois fatos marcantes para a turma dos 24 acadêmicos da Faculdade de Medicina da UFJF. Primeiro, a nossa graduação como médicos na recém-criada universidade. Em segundo, na vida política do país com a implantação da Ditadura Militar. Era uma faculdade com acanhadas instalações, com escassos recursos e com corpo docente idealista, formado por professores com muito interesse e dedicação. Oito colegas de turma encerraram o ciclo da vida, alguns de forma precoce, mas, como escreveu Guimarães Rosa: “Vocês não morreram, ficaram encantados”. Na época do curso médico, os acadêmicos e órgãos de classe lutavam bravamente para ter o que é hoje o prédio gigantesco da Faculdade de Medicina, por um ensino reconhecido como um dos melhores do Brasil e por um Hospital Universitário próprio. Em 2002, iniciei, como diretor do HU, a construção dos primeiros módulos do novo HU, no Campus da UFJF. 

 

A internet e o celular tornaram o mundo acelerado. Vivemos em uma sociedade essencialmente consumista, na qual a luta pelo sucesso profissional e pela conquista financeira é insaciável. Para Augusto Cury, psiquiatra e psicólogo, “a ansiedade tornou-se o mal do século. O homem, em qualquer idade, está a todo momento com o pensamento acelerado, gerando consequências seriíssimas para a saúde emocional, o prazer de viver, a inteligência e a criatividade”. 

 

A sociedade precisa refletir sobre a qualidade de vida dos tempos atuais e decidir os caminhos a seguir, para se evitar que os hospitais e consultórios sejam frequentados cada vez mais por pessoas ansiosas, deprimidas e fóbicas. A tecnologia com as pesquisas e inovações trouxe avanços indiscutíveis a todos os setores da medicina, promovendo enormes benefícios à saúde da humanidade. As tecnologias não substituem as bases práticas médicas. Dialogar, ver, palpar e auscultar são ações fundamentais para o bom desempenho na relação médico-cliente. As tecnologias passam, mas as bases da medicina continuam. O canadense Osler, considerado o pai da medicina moderna, escreveu: “Só o humanismo dá o verdadeiro sentido à prática médica. Entender o cliente nos aspectos sentimentais, emocionais e familiares fortalece a boa relação com o médico”. 

 

Os indigentes eram internados e atendidos nos ambulatórios da Santa Casa, sendo o nosso aprendizado desenvolvido a partir deles. Em 1982, foi criado o SUS, que universalizou o atendimento a todos, independentemente da classe social, da cor, do sexo e da idade. Os planos de saúde privilegiam o atendimento às pessoas com melhores condições socioeconômicas. O SUS e os planos de saúde provocaram enormes transformações na vida do médico. A maioria dos profissionais que se dedicava à clínica particular tornou-se refém de ambos. Com raras exceções, alguns continuam apenas na atividade particular. Os médicos então passaram a sobreviver com os baixos rendimentos impostos pelo sistema de saúde no Brasil. 

 

Escreveu Carlos da Silva Lacaz, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP: “A medicina é provação, renúncia, compreensão, serenidade, bondade, respeito à vida humana física e espiritual, competência e honestidade. Exige sensibilidade moral e social”. Em 2014, fomos homenageados pelo “Jubileu de Ouro”. A experiência adquirida com trabalho, estudo e dedicação me faria escolher novamente a medicina. Considero a mais bela entre as profissões. Saúde é a riqueza maior do homem. 

 

Fonte: Tribuna de Minas

 

*Dr. Jorge Baldi é  vice-coordenador da COREME (Comissão de Residência Médica) e membro do Corpo Clínico da Santa Casa há 45 anos

 
 
 

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